Quem conhece a história do protestantismo no Brasil sabe que demoraram mais de 100 anos para que a igreja evangélica viesse a ter por parte da sociedade um reconhecimento de igreja séria, comprometida com a Bíblia e com a evangelização do Brasil e do mundo. Foi um longo caminho de lutas, perseguições, escárnios e todos os tipos de zombarias. Hoje, segundo o último censo do IBGE a igreja evangélica tem perto dos 15% da população brasileira entre as suas fileiras.
Todavia, existe um nó que está entalando a igreja evangélica e jogando por terra a sua reputação de igreja séria, isto é, a questão do dinheiro. Creio que não seria exagero afirmar que quando se pensa na igreja que ai está, pensa-se logo no dízimo e ou no dinheiro.Interessante a percepção desta realidade. Isto nunca foi um problema para nós evangélicos. Nós íamos para a igreja e recebíamos um ensino sobre o dízimo e o aceitávamos como bíblico e logo colocávamos em prática. A sociedade nem se apercebia deste ensino e desta prática. Ela não nos julgava ou tinha uma má impressão das nossas igrejas por causa do dízimo.
De repente, de uns tempos para cá parece que o povo associa igreja com dinheiro em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Esta é a imagem da igreja evangélica hoje. Uma igreja que pede dinheiro todos os dias e de todas as formas. O pior é que pede oferecendo algo em troca que não lhe pertence, ou seja: as bênçãos de Deus. É irônico. A igreja oferece em troca do dízimo e das ofertas algo que não possui.
O que aconteceu é que nos últimos anos os pastores (de uma maneira geral) descobriram a propaganda, o marketing. Descobriram que todas as pessoas querem ficar ricas e como é difícil ficar rico neste país de maneira honesta e rápida, oferece-se a riqueza de Deus. Por isso, as igrejas enchem. Enchem de pessoas que querem a bênção.
Enchem de pessoas (até sinceras) que precisam sair da falência, que precisam de caixa para a empresa, que precisam pagar as dívidas. A equação para a liderança é lógica: casa cheia – bons rendimentos.
Para manter a máquina (igreja) em funcionamento precisam de programas cada vez mais sofisticados, bons músicos, excelentes bandas e cantores. O show não pode parar. O problema é que a igreja, como já disse acima, não tem nada para oferecer. Por isso, quando a clientela fica cansada dos programas ela pode procurar algo novo em outra igreja e ai é que começa o dilema. Como manter a máquina se o povo está indo embora?
Entram em ação planos mirabolantes para arrecadar dinheiro. Campanhas dos sete dias, campanha das sete chaves, campanhas para amarrar o devorador, campanhas disso e daquilo. E o povo que estava indo embora fica mais um pouco. Fica esperando, esperando... e a bênção não vem. Os líderes espertos logo atribuem aos crentes o fracasso do plano: faltou fé (nos crentes).
Queridos leitores(as) desta coluna: passem a desconfiar destes planos. Deus não autorizou ninguém a ofertar bênçãos em seu nome. Deus não outorgou a nenhuma igreja e a nenhum pastor a prerrogativa de negociar em seu nome.
Igreja evangélica boa é aquela que ensina sobre o dízimo como matéria de fidelidade e gratidão a Deus. Nestas igrejas você não irá ouvir mais do que uma frase na hora da entrega dos dízimos, mais ou menos assim: “Neste momento nós vamos dedicar a Deus os nossos dízimos e ofertas. Fazemos isso com gratidão em nossos corações. É um privilégio para nós participarmos da obra de Deus na Terra”. Se o palavreado sobre a entrega dos dízimos demorarem mais do que três minutos, fique esperto. Se a apelação para você entregar for baseada em outros argumentos, fique de olho aberto.
Nós, evangélicos comprometidos com Cristo e seu Reino, rejeitamos todo e qualquer esquema humano para a entrega dos dízimos e ofertas.
Antônio Carlos Barro - Colunista do site Bom Líder, é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil e Presidente da Faculdade Teológica Sul-Americana em Londrina-PR. É formado em teologia, com mestrado e doutorado pelo Fuller Theological Seminary, nos Estados Unidos.
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