“Não sabeis que sois
santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16).
A
Escritura não ensina claramente que o Espírito Santo habita em cada filho de
Deus? O cristão pode apagar o Espírito de Deus ou não glorificar a Deus como
deveria, mas se é um crente no Senhor Jesus Cristo, o Espírito Santo habita
nele.Meu objetivo aqui, porém, é chamar sua atenção para um outro fato. Creio que, hoje, embora o Espírito continue habitando em homens e mulheres cristãos, ele não está habitando neles com poder. Em outras palavras, Deus tem muitos filhos e filhas sem poder.
O Que é Necessário
Pelo menos noventa por cento dos
membros da igreja nunca pensam em testemunhar de Cristo. Se vêem uma pessoa,
talvez um parente próximo, caminhando rapidamente para a destruição, eles nunca
pensam em falar àquela pessoa a respeito de seu curso pecaminoso e ganhá-la
para Cristo. Com toda a certeza, há algo de errado.
Entretanto, quando você fala com um
desses cristãos, você percebe que ele tem fé; portanto, não se pode dizer que
não é filho de Deus. Ao mesmo tempo, está claro que não tem poder, não tem
liberdade, não tem o amor que o verdadeiro discípulo de Cristo deveria ter.
Muitos
pensam que precisamos de novos métodos, novas igrejas, novos instrumentos,
novos corais e tantas outras coisas novas. Não é disso que a igreja necessita
nestes dias. Temos falta é do velho poder que os apóstolos tinham. Se tivermos
isso em nossas igrejas, haverá nova vida. Então teremos novos pastores – os
mesmos pastores, só que agora renovados com poder, cheios do Espírito.
Há algum tempo, em Chicago, muitos
estavam esforçando-se na obra do Senhor, mas parecia que a carruagem da
salvação não avançava. Então um pastor começou a clamar lá do fundo do coração:
“Ó, Deus, coloca novos ministros em cada púlpito!”. Na segunda-feira seguinte,
dois ou três homens levantaram-se e disseram: “Tivemos um novo pastor domingo
passado – na verdade, era o mesmo pastor, mas havia nele um novo poder”.
Acredito firmemente que é disto que precisamos hoje por toda parte. Queremos
novos pastores no púlpito e novas pessoas nos bancos. Queremos pessoas
vivificadas pelo Espírito de Deus, queremos que o Espírito venha e tome posse
dos filhos de Deus, revestindo-os de poder…
É
possível alguém ter vida, num nível muito superficial, e ficar satisfeito com
isso. Penso que muitos hoje estão nessa condição. No terceiro capítulo de João,
vemos que Nicodemos veio até Jesus e recebeu vida. No início, essa vida era
muito frágil. Não ouvimos que ele tenha se declarado e confessado a Cristo com
ousadia nem que o Espírito tenha vindo sobre ele com grande poder; mesmo assim,
ele recebeu vida pela fé em Cristo.
No quarto capítulo de João, lemos sobre
a mulher junto ao poço de Samaria e como Cristo lhe estendeu a taça da
salvação. Ela a tomou e bebeu, e isso se transformou nela“uma fonte a jorrar
para a vida eterna” (v.14). Isso é mais forte do que a experiência relatada em
João 3. Aqui o Espírito veio como uma torrente, enchendo a alma da mulher
samaritana. Como alguém já disse, veio do trono de Deus e, como uma corrente
poderosa, transportou-a de volta para o mesmo trono. A água sempre sobe até
alcançar o nível, e se tivermos a alma cheia com a água do trono de Deus, ela
nos fará subir até o nível de sua fonte.
Agora,
se você quiser conhecer a descrição do mais alto nível de vida cristã, vá para
o sétimo capítulo de João; lá você verá que do interior daquele que, ao confiar
no Senhor Jesus, recebe o Espírito “fluirão rios de água viva” (v.38).
Há duas maneiras de cavar um poço.
Lembro-me de que, quando era menino numa fazenda na Nova Inglaterra (EUA),
havia um poço com uma velha bomba de madeira. Eu costumava bombear a água
daquele poço para lavar roupa e dar de beber ao gado. Muitas e muitas vezes, eu
precisei bombear e bombear até meu braço ficar cansado.
Hoje,
porém, existe um método melhor. Não se cava mais esses poços rasos, com poucos
metros de profundidade, paredes revestidas de tijolos e uma bomba lá no fundo;
agora, eles cavam muito mais fundo, atravessando todas as camadas de argila,
areia e rocha, e furando mais ainda até encontrar o que eles chamam de corrente
subterrânea. É o poço artesiano que não requer trabalho para tirar a água, já
que ela jorra espontaneamente, com pressão própria, lá das profundezas.
Penso que Deus quer que todos seus
filhos sejam como um poço artesiano, que não precisem do esforço de uma bomba
manual, mas que tenham água viva jorrando abundantemente. Você já viu pastores
no púlpito que só sabem bombear e bombear e bombear? Eu já vi isso muitas
vezes, e já tive de fazê-lo também. Sei bem como é. Os pastores ficam no
púlpito, falando, falando, falando; o povo adormece, e o líder não consegue
despertá-lo. Qual é a dificuldade? Não há água viva. Estão bombeando quando não
há água no poço. Você não consegue tirar água de um poço seco. É necessário ter
alguma coisa no poço, senão você não consegue tirar nada de lá.
Correntes
Que Fluem
Gosto
de ver pessoas cheias de água viva, tão cheias que não conseguem contê-la, tão
cheias que precisam sair e proclamar o Evangelho da Graça de Deus. Quando
alguém fica tão cheio que não pode mais se conter, então está pronto para o
serviço de Deus.
Quando estava pregando em Chicago, o
dr. Gibson levantou a seguinte questão na reunião de perguntas: “Como é que
vamos descobrir quem está com sede?”. E continuou: “Se um garoto passasse pelo
corredor trazendo um balde cheio de água cristalina e uma concha, logo
descobriríamos quem estava com sede. Homens e mulheres sedentos estenderiam as
mãos, pedindo água. Por outro lado, se alguém viesse pelo corredor com um balde
vazio, você não identificaria as pessoas sedentas. Elas olhariam para o balde,
veriam que não havia água e não se manifestariam. Portanto”, disse ele, “penso
que esta é a razão por que não somos mais abençoados no nosso ministério.
Estamos andando por aí, carregando baldes vazios, e as pessoas vêem que não
temos nada dentro deles e não se manifestam.”
Acho que há uma boa dose de verdade
nisso. As pessoas vêem que estamos carregando baldes vazios e não virão a nós
enquanto não estiverem cheios. Percebem que não temos nada além do que elas.
Precisamos do Espírito de Deus repousando sobre nós e, então, teremos algo que
trará vitória sobre o mundo, a carne e o diabo. Teremos vitória sobre nosso
temperamento, sobre nossa presunção e sobre todo e qualquer mal; quando,
portanto, esmagarmos esses pecados debaixo dos pés, as pessoas virão e nos
indagarão: “Como é que você conseguiu? Eu preciso desse poder. Você tem algo
que ainda não tenho. Como posso conseguir?”
Oh,
que Deus nos mostre essa verdade! Estivemos nos afadigando a noite inteira?
Então lancemos a rede no lado direito. Peçamos a Deus que perdoe nossos pecados
e que venha nos ungir com poder do alto. Mas lembre-se, ele não vai conceder
esse poder a uma pessoa impaciente, egoísta ou ambiciosa. Ele não vai
concedê-lo até que sejamos esvaziados do ego, do orgulho e de todos os
pensamentos mundanos. Quando buscamos a glória de Deus, não a nossa própria,
mais do que depressa o Senhor nos abençoará, enchendo completamente o nosso
cálice.
Você sabe como é a medida do céu? Boa
medida, recalcada, sacudida, transbordante. Se nosso coração estiver cheio com
a Palavra de Deus, como é que Satanás poderá entrar nele? Como é que o mundo
vai entrar nele? A medida do céu é boa medida, medida cheia, transbordante.
Você tem essa plenitude? Se não a tem, comece a buscar. Confesse que pela graça
de Deus você a obterá, pois é o prazer do Pai nos dar essas coisas.
Ele
quer que brilhemos neste mundo. Quer fortalecer-nos para sua obra. Quer que
tenhamos poder para testificar do seu Filho. Para que finalidade ele nos deixou
aqui? Não foi para que pudéssemos comprar, vender e obter lucro; foi para que
glorificássemos a Cristo e testificássemos dele. Porém, como se pode fazer isso
sem a plenitude do Espírito? Eis a questão. Como cumprir nossa missão sem o
poder de Deus?
Cristo disse: “Mas recebereis poder ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
No dia de Pentecoste, dez dias após Jesus Cristo ser glorificado, o Espírito
Santo desceu com poder. É possível que alguns ainda questionem a possibilidade
de termos o poder de Deus agora. Pensam que o Espírito Santo nunca mais veio
numa manifestação semelhante e que nunca mais virá com tal poder.
Suprimento
Fresco
Vá para Atos 4.31 e você verá que o
Espírito Santo veio uma segunda vez, de tal modo que tremeu o lugar onde
estavam, e encheu a todos novamente com poder. O fato é que somos vasos furados
e precisamos ficar bem embaixo da fonte, em todo o tempo, se quisermos
permanecer cheios de Cristo. Um erro que muitos de nós cometemos é tentar fazer
a obra de Deus com a graça que recebemos dez anos atrás. Se necessário,
dizemos, continuaremos com a mesma graça. No entanto, o que realmente
precisamos é de suprimento fresco, unção fresca e poder fresco. Se o buscarmos,
e o buscarmos com todo o coração, nós o receberemos.
Os
convertidos da igreja primitiva foram ensinados a buscar esse poder. Filipe foi
para Samaria, e chegaram notícias em Jerusalém de que um grande trabalho estava
sendo realizado em Samaria, com muitos convertidos. Pedro e João foram lá e
impuseram as mãos sobre os convertidos, e estes receberam o Espírito Santo. É
isso que nós cristãos deveríamos buscar hoje – o poder do Espírito de Deus para
servir, para que Deus nos possa usar poderosamente para edificar sua Igreja e
apressar a manifestação de sua glória.
Em Atos 19, vemos como Paulo perguntou
a um grupo de doze homens em Éfeso se haviam recebido o Espírito Santo quando
creram. A resposta deles foi: “Nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo”
(v.2). Ouso dizer que há muitos hoje que, se alguém lhes fizesse a mesma
pergunta, também responderiam: “Nem sei do que você está falando”. Como aqueles
doze homens de Éfeso, nunca compreenderam a relação singular do Espírito com os
filhos de Deus nesta dispensação.
Creio
firmemente que os cristãos estão sem poder hoje porque a Igreja deixou de lado
esse entendimento sobre a importância do Espírito Santo; de algum modo, ficou
perdido. Na maioria das vezes, você poderia acrescentar cem pessoas a uma
igreja e não perceber nenhum acréscimo de poder. Isso está totalmente errado.
Se essas pessoas fossem ungidas pelo Espírito Santo, haveria grande poder por
terem sido acrescentadas à igreja.
Campos Verdes
Quando estive na Califórnia pela
primeira vez, no Vale do Sacramento, fiquei muito admirado ao ver uma fazenda
onde tudo ao redor era verde – todas as árvores e flores estavam viçosas, tudo
era verde e bonito. Do outro lado da cerca, porém, tudo estava seco, sem verde
algum. Fiquei perplexo até fazer algumas perguntas e descobrir que o dono da
fazenda verde tinha um sistema de irrigação. Ele simplesmente regava suas
plantas e, com isso, mantinha tudo bem verde, enquanto os campos vizinhos eram
tão secos quanto a porção de lã de Gideão, sem uma gota sequer de orvalho.
É assim com muitos na Igreja hoje. São
como aquelas fazendas na Califórnia –áridas, ressecadas e desoladas –,
aparentemente sem vida. Podem sentar-se ao lado de um homem que está cheio do
Espírito de Deus, cheio de frutos como um loureiro verde, e mesmo assim não
buscarão uma bênção semelhante. Por que essa diferença? Porque Deus derramou
água sobre quem estava sedento; esta é a diferença. Alguém buscou a unção e a
recebeu. Quando desejamos isso acima de tudo o mais, Deus no-la dará. A grande
pergunta diante de nós é: nós a queremos?
Quando
fui pela primeira vez à Inglaterra, fiz uma preleção bíblica com a presença de
muitos pastores. Eu não sabia nada sobre a teologia inglesa e estava receoso de
entrar em choque com suas convicções. Não estava me sentindo muito à vontade,
especialmente com respeito a esse assunto sobre o dom do Espírito Santo com
poder para servir.
Um dos pastores presentes estava com a
cabeça baixa, apoiada na mão, e pensei que o bom homem estava com vergonha de
tudo o que eu estava dizendo, o que, evidentemente, me perturbou
consideravelmente. No fim da palestra, ele pegou o chapéu e foi embora, e logo
pensei: “Bem, esse eu nunca mais verei”. Na reunião seguinte, procurei por ele,
mas não estava lá. Na outra reunião, procurei de novo, mas também não viera.
Ficou mais forte ainda a impressão de que havia se ofendido com o meu ensino.
Alguns
dias depois, porém, numa grande reunião de oração ao meio-dia, um homem se pôs
de pé, com a face iluminada como se tivesse estado no monte com Deus. Olhei
para ele e, para minha grande alegria, era justamente aquele irmão. Ele contou
como estivera na primeira pregação ouvindo que existe, de fato, um poder fresco
para pregar o Evangelho. Disse que determinou ali no coração que se existia tal
coisa à sua disposição, ele queria obtê-lo. Foi para casa e voltou suas atenções
para o Mestre; travou-se, em seguida, uma batalha consigo mesmo como nunca
experimentara até então. Ele pediu que Deus lhe mostrasse a natureza pecaminosa
do seu coração, que ainda desconhecia, e clamou intensamente diante de Deus que
fosse esvaziado de si mesmo e cheio do Espírito. Concluindo, testemunhou: “Deus
respondeu à minha oração!”.
Encontrei-o em Edimburgo, seis meses
depois, e ele me contou que havia pregado o Evangelho todas as noites durante
aquele período. Disse que não houve uma pregação que não resultasse em pelo
menos alguns permanecerem depois para conversar; contou também que tinha
compromissos nos quatro meses seguintes para pregar o Evangelho todas as noites
em diferentes igrejas. Antes dessa nova unção, penso que se alguém disparasse
uma bala de canhão no meio da igreja dele, não acertaria em ninguém; antes de
se passar trinta dias depois da unção, porém, o prédio estava lotado e os
corredores apinhados de gente. Seu balde já estava cheio de água fresca, e o
povo, percebendo, começou a afluir a ele de todas as partes.
Lembro-me
também de um outro velho pastor, que me disse certa vez: “Sofro de doença no
coração. Não posso pregar mais do que uma vez por semana”. Um colega o estava
ajudando, pregando no seu lugar e fazendo visitas. Ele ouviu falar dessa unção
renovadora e disse: “Eu gostaria de ser ungido para o meu sepultamento. Antes
de partir, gostaria de ter o privilégio, mais uma vez só, de pregar o Evangelho
com poder”. Ele orou, então, para o Senhor enchê-lo com o Espírito.
Encontrei-o, pouco tempo depois, e ele
me contou: “Tenho pregado oito vezes por semana, em média, e houve muitas
conversões durante todo esse tempo”. O Espírito veio sobre ele. Não creio que o
problema de saúde que tivera tenha sido resultado de muito trabalho; pelo
contrário, foi por ter tentado funcionar sem óleo, como uma máquina sem
lubrificação. Não é o muito trabalho que leva os pastores ao esgotamento; é o
esforço de trabalhar sem o poder do Espírito.
Oh,
que Deus ungisse seu povo! Não somente os ministérios, mas cada discípulo. Não
pense que os pastores são os únicos que precisam de unção. Não há uma mãe que
não precise de unção em casa para administrar a família, tanto quanto o pastor
precisa dela no púlpito ou o professor da Escola Dominical na classe. Todos nós
precisamos dela, e não devemos descansar dia e noite até que a recebamos. Se
esse for o supremo pensamento em nossas mentes e corações, se estivermos
famintos e sedentos por ela, diremos:“Com a ajuda de
Deus, não descansarei
até que seja revestido de poder do alto!”.
Extraído
de “Secret Power” (O Poder Secreto) de D. L. Moody (1837-1899 – um dos mais
notáveis evangelistas do século 19).
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